novembro 21, 2004

Migrações

Sabem quando vos apetece correr sem rumo e fugir para o meio do nada e correr sem roupa e sem preocupação e apenas sentir o vento frio e forte contra a pele molhada e salgada?

Aquela sensação única de correr tanto que a qualquer momento os nossos pés podem descolar do chão e…voarmos…

Eu sempre quis ser o vento do norte…a segredar aos ouvidos das pessoas que o futuro é mais ali mais acolá…

Vou de novo partir e vou de novo chegar e deixar correr a minha alma cigana pelas estradas livre e sentir o bom costume nómada a vibrar nas veias…

Dar um pouco de alento à minha alma migratória e esticar as asas até ao sul…

Sim, vou deixar de novo a austera montanha… este frio congela-me até a alma…

Mas desta vez levo um sorriso nos lábios… não tardará o meu amor migrará também… para o meu colo.



novembro 17, 2004

Que possa ser apenas...

Ouço os clamores
E calo as dores,
Mas de cansada
Eu não canso!
Pudesse ao menos
Tocar-te, doce mulher...
Pudesse ao menos beijar-te
Ou abraçar-te...
Apenas...

Fosse eu mais que isto...
Fosse mais que matéria,
Fosse apenas a antimatéria!
Ou fosse eu ninguém,
Que nunca tivesse existido,
Para que isto nunca te tivesse
Acontecido!

Mas é nosso fado sofrido,
Para já, certamente...
E mesmo não te tocando
Que incessantemente te beije...
E que mesmo distante,
Em ti repouse serenamente,
Como andorinha matinal
Em dias de primavera...
E que seja em ti docemente...
Que seja para ti eternamente...
Que seja de um azul só teu,
Que seja apenas em nós.
Que tudo em redor seja cenário
Apenas...
AlmaAzul (alter-ego)

novembro 07, 2004

Emergência técnica


Será que eu continuo a ser a única pessoa a captar no meu gaydar o sinal Júlia Pinheiro? Será que esta treta funciona mesmo? (Se bem que eu ainda sou do bastião que rejeita essa ideia...)

Contudo, se alguém me implantou para aqui essa coisa, era só para avisar que deve ter chegado a hora da revisão, pois ando a apanhar sinais estranhos... (e só esses)

novembro 06, 2004

O que faço com a tela do meu quarto? (Parte II)

Aí entendi porque me tinhas feito levar a minha tralha toda connosco! Eu nunca te tinha dito que te queria retratar, mas tu sabias... tu sabias sempre essas coisas...! Certamente, também sabias que eu nunca te teria pedido para o fazer... acho que tinha medo de não transpor para a tela a tua essência, que perdesses esse brilho dos olhos... que me esquecesse de algum pormenor do teu corpo... Isso teria sido imperdoável para ti!

Ainda me vejo, quase inconsciente, pegando na tela, nos pincéis, nas tintas... arrastando tudo para perto de ti, enquanto tu te livravas da roupa que teimava ficar agarrada ao teu corpo, e te deitavas, completamente despida, sobre a areia... Não me deixaste sequer opinar sobre a posição que tomavas... disseste logo "é assim que eu quero ficar!".

Acho que nunca te vi tanto tempo calada, parada, quase estática... nem mesmo quando dormias. Tinhas o estranho hábito de mexer os olhos enquanto dormias...

Demorei algumas horas a pintar, talvez mais do que o normal, não sei se por medo de falhar, se para poder continuar ali a olhar para ti assim, divinal, quase perfeita... fixando-me em cada curva... cada declive... cada sinal... cada cicatriz... em cada ínfimo pormenor do teu corpo.

Ainda te vejo a levantar sem perguntar se já tinha terminado, dizendo que estavas morrendo de calor e entrando assim nua nas águas geladas do rio...

Sim... eu já tinha terminado fazia algum tempo... mas estava paralisado com a tua duplicação!

Ainda te ouço dizer: "amor esta é a melhor pintura que alguma vez farás... a minha alma está dentro desta tela...!

Por vezes, penso que realmente estás dentro da tela, que te roubei a alma e a coloquei lá...

Pouco tempo depois foste embora, dizendo que era melhor para todos! E que me amarias mesmo depois de morta... Mas melhor para mim não foi!! Talvez o fosse para ti... ou para os outros, mas esses a mim nunca me importaram, ao contrário de a ti!

Por vezes, em noites de insónia, acredito que estás mesmo dentro do quadro... ouço-te falar comigo... dizes-me que te procure... que te encontre... Não, eu nunca mais te procurarei!!!

Outras vezes, acordo em manhãs, depois de noites agitadas, com a sensação de que te estás a levantar e a entrar de nova na tinta daquela tela...

Não sei o que fazer com aquela tela! Mas tenho de fazer alguma coisa... ela perturba-me realmente...

Talvez me consigas ouvir, talvez tenhas uma resposta para mim... tu ou qualquer outra pessoa que entenda...

novembro 05, 2004

O que faço com a tela do meu quarto? (Parte I)

Nunca deixei que ninguém tocasse a tela... Acho que só eu consigo realmente tocar-lhe... Por vezes, os autores têm destas coisas em relação às suas criações! Tu também tens as tuas manias com os teus quadros. Não faças essa cara, ou esqueces-te que te conheço bem!?

Não deixo sequer que dela se aproximem muito. Continua exactamente no lugar onde a colocaste... na parede, bem em frente da minha cama. Chego a pensar que fizeste de propósito, para que nunca me esquecesse de ti! O que talvez não saibas é que não era preciso isso...

Outras vezes, penso que a colocaste ali, no meu quarto, naquele local sem dúvida estratégico, para intimidares com a tua beleza qualquer mulher que por lá apareça!

Em dias mais calmos, penso apenas que a colocaste lá para vigiares o meu sono e tomares conta dos meus sonhos agitados... ou mesmo para que sonhasse contigo. É difícil não o fazer quando a moldura é a última coisa que se olha antes de adormecer na minha cama!

Podias ter escolhido qualquer outro lugar!!! Um menos incómodo para mim!!! Ou podias ter levado a tela contigo quando decidiste partir!! Mas não!! Sempre gostaste de me perturbar das formas mais estranhas, acho que te dá prazer. Por fim, acabaste por confessar que tinhas inventado tudo só para me veres assim... que adoravas ver-me assim perturbada por tua causa!!! Pois, a tua loucura sempre presente em tudo!!

Sim, talvez seja por isso que colocaste ali a tela!!

Realmente aquela moldura perturba-me... por vezes, parece que regrido no tempo e ainda te estou a pintar, ainda estamos na margem daquele pequeno rio, e ainda te vejo a entrar, todo vestida, naquelas águas, como se o tempo que demorasses a tirar a roupa fosse precioso para ti... como se o tempo que tens para viver não chegasse...

Ainda te ouço dizer, ao saíres completamente encharcada, com a roupa colada ao corpo, correndo para mim como uma criança para o colo da sua mãe: "é hoje que quero que me pintes, tem de ser hoje... ou então nunca deixarei que o faças..."

(continua)

novembro 03, 2004

Não! Não! Não!

Não! Não! Não!
Não me regro pelas vossas regras!
Não tenho convosco qualquer semelhança.
Eu sou eu, eu só, eu e a minha loucura!
Vagueio em noite escura…
Esperando apodrecer em qualquer viela.
Mas eu só, sem ninguém que me impeça!
Sem que ninguém de mim tenha pena, ou se compadeça!

E aí eu serei feliz…
Feliz na minha loucura.
Porque não terei ninguém para amar,
Nem ninguém suplicando o meu amor:
A todos passarei despercebida.
Já ninguém me reconhecerá
Aí será o fim…
Desaparecerei da memória de todos!

Ao longe ficará o prenúncio,
Houve alguém que soube dizer:
Não!
Não!
Não!

Asiram L. (alter-ego)