agosto 21, 2004

Ansiosamente...

JfV_Fantasias_Subjacentes_1991_122_70_500_s_c.jpg

Volpe "Fantasias Subjacentes"

De repente disseste “amor, amanhã é domingo” e um calafrio percorreu-me o corpo…

O que fazia já nada importava, a minha atenção está agora toda virada para ti e para esses poucos dias que vamos poder ficar juntas.

Na Realidade, eu farto-me de planear, e no fim acabamos por não fazer nem metade daquilo que eu tinha pensado… “Nem sei porquê!!!” flutua agora no meu pensamento.

A verdade é que o tempo não nos chega, nunca nos chegou… e vivemos à espera, sensatamente, ou não, de que um dia chegue um tempo em que o tempo nos chegue.

Acho que desta vez não vou planear, será melhor pensarmos nisso as duas quando juntas, quando sós.

Neste momento só desejo que o domingo seja breve…e que a segunda te traga com ela, sempre igual, sempre minha, sorridente, linda, de braços entreabertos e com esse brilho no olhar…

Ai! Este bater de asas no estômago já chegou… Não te demores.


agosto 17, 2004

Ímpeto

outono4.jpg


O Outono chegou… Aqui, a norte deste jardim quase marítimo, o Outono chega mais cedo... Chega de rompante, sem se prever, e fica para durar longos meses.

Há dois dias andava eu de meias mangas e hoje trago já uma camisa e uma camisola de lã.

O frio já entra pelas frinchas das janelas da granítica casa de meu pai. As folhas caem das árvores rapidamente e o rio está já transbordado das margens.

O cheiro a terra molhada invade todos os narizes, mas em pouco tempo já nem o sentirão, de tão habitual que se torna. As andorinhas já partiram… Até elas partem mais cedo aqui…

Eu também não tardo…porque também “nunca tardo”… Vou ver o mar ainda azul imenso de praias mais a sul… esperançada que todos os banhistas já tenham partido.

O céu aqui já está perto da terra… já me sufoca… Gosto de o ver, é uma das minhas paixões, mas quando bem alto, bem longe da minha cabeça.

agosto 14, 2004

Orfeu pacífico

serenidade.jpg


Orfeu pacífico: conto o que sinto!
Canto como a alma que me apraz
E sou um único sentir
No turbilhão dos sentidos!
Se canto é para serenar,
Para sentir no canto das aves
Os peixes e as flores…
Que me enredam!
Procuro sentir a luz
Do sol, da lua...
E dos dois quando, tímidos,
Se entreolham já de relance…
Procuro o lado puro da existência
E olho o outro atormentado
Procurando que o primeiro o invada…
E se falho recomeço desde a enseada.
Mas recomeço como se não me doesse nada!
A minha dor é dor calada…


agosto 11, 2004

Os Pescoços


Quando, frescos
Jovens e intactos,
Nas frenéticas luzes da noite,
Se prostram inocentes
Em minha frente
Os Pescoços (!!!),
Rompe em mim
O mais primitivo dos instintos!
E sinto…
Frios… quentes,
Brotarem como lâminas,
Os Dentes!!!
E fervendo em delírio,
Quase negro,
Quase insano,
Em cada vaso,
Canal de puro néctar,
O Sangue!!!
Aí enlouqueço...
E sem falha,
Sem imperfeição,
Sugo todo o mel
Das inócuas flores,
Ficando apenas no encalço
As feridas!!!
Simples marca,
Própria, personalizada,
Inimitável…
Inerente…
Como eu!


Vanda (alter-ego)

agosto 06, 2004

Derrotado

derrotado12




Derrotado


Segue
Em sangue,
Exangue...


agosto 04, 2004

Um Poetrix

mulher_vento_001.jpg

Desprezada

Isolada.
Em seu redor,
O que há, é nada!

Poetrix? Sim, já ouvi falar... mas...

Vamos lá esclarecer…

O Poetrix surge como nova corrente na poesia, através do poeta Goulart Gomes, afirmando-se agora um pouco por todo o mundo através do Movimento Internacional POETRIX, coordenado pelo mesmo escritor.

Basicamente, um Poetrix é um poema constituído por um título e uma estrofe de três versos (terceto), com um máximo de trinta sílabas métricas.

Para saber mais consulte: POETRIX

agosto 02, 2004

Para atravessar contigo o deserto do mundo



Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)