setembro 10, 2004

Agustina Bessa-Luís vence Prémio Camões 2004

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Não quero deixar passar a oportunidade para congratular a grande escritora que é, Agustina Bessa-Luís, neste momento em que recebe mais um prémio (Camões 2004), desta vez, o maior para a literatura portuguesa.

Da mesma forma que não quero deixar de referir o meu espanto e o meu desalento quando vi ontem no noticiário o Ministro da Cultura Brasileiro (Gilberto Gil), durante a cerimónia de entrega do Prémio Camões e condecoração da actriz brasileira Fernanda Montenegro, pelo nosso primeiro-ministro, referir que não conhecia a obra da escritora portuguesa, não sabia nada dela, mas que deveria ser uma grande escritora e seria uma boa oportunidade para ficar a conhecer!!!

Que fará um ministro da cultura no Brasil? E, se a desculpa for “um país muito vasto e com muitas culturas que é já um mundo em si mesmo”, pelo menos podia ser um pouco hipócrita (e inteligente!) e dizer que “é uma grande escritora… blá blá blá... blá blá blá…”!

Ou será que eles, que se aclamam na vanguarda das Ciências Psicossociais, não põem os seus políticos a aprender Relações Públicas e Protocolo?!

Não… parece que não, porque é bonito um ministro da cultura aparecer na cerimónia de entrega do prémio Camões a uma escritora que ele nem sabe quem é! Fica bem!

Afinal, até lá estava o primeiro-ministro português (será que ele sabia qual era?) e mais uma série de personalidades que nem vale a pena perguntar se ele conhece (bem, a Fernanda Montenegro ele deve conhecer… e o Lula também… mais não arrisco!).

Há pequenas coisas que me irritam… no entanto, não quero perder o fio à meada e esquecer o propósito deste post, por isso, fica uma citação com que eu concordo plenamente:

“(...) A energia de Agustina cansa, num país de lírios de água e de gente mordida pelo zelo alheio. Por isto, o lugar de Agustina na literatura contemporânea é um lugar incómodo, onde erros e convicções ressoam a dobrar por tratar-se de uma mulher que nunca reivindicou tal estatuto para se disfarçar de vítima ou pretendente ao trono. E, além de incómoda, Agustina é inquietante, com aqueles olhos de doninha esperta onde se concentra uma atenção aos problemas difíceis (...)”
Clara Ferreira Alves in Expresso, 23 / 1 / 88