Fragmentos de neve
Cuerpo de lágrimas (tinta e cartão)
Rolando Estévez Jordán (1994)
Rolando Estévez Jordán (1994)
Relembro ao longe, como um eco dentro da minha cabeça, umas palavras de Eugénio de Andrade, já não muito claras na minha memória:
“Hoje venho dizer-te que nevou
no rosto familiar que te esperava.
Não é nada, meu amor, foi um pássaro,
A casca do tempo que caiu,
Uma lágrima, um barco, uma palavra.(…)”
(“Canção” in Antologia breve)
E, de repente, dou-lhes um novo significado... vejo-me a mim a tentar negar cada lágrima que me escorre pela face em dias como hoje, onde se junta a desilusão, o desespero, a impaciência, a ausência, o desapontamento e a derradeira partida.
E onde todos os que me rodeiam parecem contribuir para este caos interno que me torno, e de onde apenas floresce o que de pior me constitui, o lado negro... e antes que algum outro eu apareça... corro, fujo, quase desmaio, quase sufoco, quase me desintegro, tal é a velocidade com que corro para dentro de mim.
Repouso, silencio e encontro a minha paz...
-Não era uma lágrima… somente neve pura, meu amor.
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