maio 14, 2005

“My dream today has the days of ours die”

Era tarde, talvez umas três ou quarto da manhã…
Estávamos sentadas no sofá da tua casa e conversávamos animadamente, sobre os sete anos em que não nos vimos.
De repente o Silêncio. Todo o meu corpo se arrepiou. Ficamos estáticas olhando-nos nos olhos.
Metade de mim de certeza que se aproximou de ti, te passou a mão no cabelo, e quase lentamente te beijou. Mas a outra metade de mim com que eu me apresentava naquela noite ficou estática, no canto do sofá olhando-te assim perfeita.
Tu, nesse dia também devias estar com a mesma parte de ti . Pois também tu não te moveste.
Acabei por olharar o maço de cigarros em cima da mesa, levantei-me, peguei num cigarro e no isqueiro e fui até a varanda.
Era verão então, estava uma noite quente, o céu não podia estar mais limpo. Desejei que todas as luzes ao longe na cidade se apagassem para que pudesse ver melhor o céu.
Demoraste-te, enquanto na minha cabeça balançavam palavras, ora serenas, ora agitadas, com num instrumental de Madredeus e eu olhava a minha estrela. Aproximaste-te dizendo:
- Uáu.. esta lindo hoje este céu.
E de novo o Silêncio ocupou-nos. Respondi-te apenas com olhar.
Ficamos assim paradas, caladas… Até que te disse apontado uma estrela na cabeça de Escorpião:
- Sabes, não sei porque mas, acho que devo ter vindo dali, daquela estrela a que já chamo minha.
Olhas-te desorientada para o meu dedo, e para o céu. Aproximaste-te de mim e colocas-te entre mim e o peitoril da varanda, puxaste-me a mão esquerda e colocaste-la na tu cintura, encostaste a cabeça no meu ombro direito e com o olhar seguiste o meu dedo que ainda estava estático apontando a estrela. De novo o Silêncio.
Passaram longos minutos até que disseste:
- Sim, foi de lá que viemos, agora já me recordo de onde te conhecia.
Sorriste.
Mais uma vez silêncio. Puxaste-me a outra mão para que te abraçasse. Uma paz serena ocupou-nos.
Nunca mais falamos. Ficamos ali assim durante anos e anos.
Catorze anos depois, tombaste a cabeça para mim e beijaste-me pela primeira vez. Foi um beijo sereno, indescritível que valeria por todos os beijo que não demos durante esta vida. Nesse dia, ainda, morreste.
Eu continuei contigo nos braços. Sentindo-te e olhando o céu.
Vi-o, ao longe, pela última vez exactamente trinta anos depois de ti. Foi no dia que abri as asas e parti para Antares.
Tu esperas-me na nossa estrela Azul. Sorriste-me e levaste-me pela mão contigo. Estavas tão perfeita…Como sempre foste, só que vestida de Azul-Eterno.
AlmaAzul
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